Clarice era jovem, inteligente, cheia de vida e segura de si. Como se não bastasse tudo isso, ainda era linda, de uma beleza estonteante; era invejada pelas mulheres e desejada pelos homens que a cercavam. Sonhadora e romântica, ela esperava pelo príncipe encantado e tinha a mais absoluta certeza de que ele não tardaria a chegar.
Quando conheceu Pedro, em um luau, ficou impressionada com suas palavras bem articuladas, com seus gestos ensaiados e sua inteligência regada a wísque barato. Não demorou mais do que alguns instantes para que ela se apaixonasse perdidamente por ele, e demorou menos ainda para concluir que Pedro era o homem da sua vida . Com essa certeza no coração aceitou prontamente quando ele a pediu em casamento, ficando tão radiante que esquecera que tinha vida própria. Entregou-se , sem reserva, a esse homem, que a partir daquele momento, tornou-se o soberano senhor do seu destino, a quem confiou seus segredos mais íntimos, a quem entregou seu corpo impecável, a quem ofereceu seus sonhos e até mesmo a chave da sua vida, transformando-o no guardião da sua felicidade.
Pouco a pouco porém, sem se dar conta do que acontecia ao seu redor, Clarice foi perdendo seu brilho, foi murchando como uma flor que perde seu viço e cabisbaixa olha para o chão, cujo lugar seria, em pouco tempo, seu inevitável destino.
Aquele homem a quem ela entregou-se cegamente, transformou-se logo depois em seu carrasco. Ele a insultva, a humilhava, a desprezava sem ao menos lhe dizer o motivo pelo qual a rejeitava tanto assim. Enquanto isso, Clarice tentava desesperadamente tocá-lo, beijá-lo, na esperança de que ele voltasse a ser o príncipe que ela um dia acreditou que fosse, porém, quanto mais ela se debatia nessa luta infrutífera, ele ia se mostrando o sapo que sempre fora, e aquela mulher linda e exuberante ia desmoranando junto com seus sonhos, com sua alegria de viver, e definhando ela se perguntva:
- Onde, afinal, foi que eu errei? Será que ele me despreza assim, porque deixei de me vestir adequadamente? Será que não li o suficiente para aumentar minha cultura e atualizar minhas conversas? Quem sabe se eu comprar um perfume diferente, renovar o estoque de lingerie ou fizer um novo corte de cabelo...Talvez ele volte a me enxergar.
Com todos esse pensamentos distorcendo sua cabeça, ela saía em busca de todo e qualquer artifício que lhe trouxesse de volta aqueles dias gloriosos de paixão. Apesar de todos os seus esforços, Pedro se mantinha irredutível e a fazia acreditar que agora, além de feia, ela era chata, pegajosa como um chiclete mascado durante horas. Já Clarice...Ela assimilava essas idéias com uma dor mortal; era como se um punhal tivesse sido cravado em seu peito e ela, de fato, passou a acreditar, piamente, que já não era digna do amor daquele homem, pois havia se tornado a mais horrenda das criaturas. Pouco a pouco deixou de se alimentar e descobriu na bebida o alento que precisava, quando estava embriagada não pensava, não conseguia enxergar a dimensão de sua dor. O sono, antes excessivo, foi ficando cada vez mais escasso e ela foi mergulhando na escuridão total, tanto ela quanto seus dias e noites eram feitos da mesma matéria, eram feitos da mesma escuridão inteminável que invadia-lhe as profundezas da alma, que a tornava diminuta diante da vida e não deixava penetrar nenhum raio de sol.
Meses transcorreram e por anos e anos ela ficou imersa naquela sombrio inverno da sua vida. Até que um dia, meio que sem querer, ela acabou encontrando um filete de luz azul que a conduziu de volta ao reino da sensatez, e ali, ela se deu conta que o seu único erro foi ter deixado de amar a pessoa mais importante da sua vida: ela própria.
Apesar das perdas irreparáveis, dos danos acumulados em todos aqueles anos, ela viu que ainda havia tempo para recomeçar, para recuperar a chave do seu destino, e principalmente, para recuperar um dos seus maiores tesouros, a sua autoestima.
Essa postagem faz parte da Blogagem Sentimentos, proposta pela Glorinha do blog Café com Bolo
21 comentários:
Muito bom Yoyo.
Vi neste texto história de pessoas que conheci, que se entregaram ao amor de quem não soube amar, e assim acntece a pessoa se perde na busca do outro e se perde de si.
Ainda bem que assim como no texto, consegui ver aa recuperação de duas grandes amigas.
E viva a vida!
Bjos
Su
Uau Yoyo! Que estória! caiu mas deu a volta por cima...taí uma bela mensagem de esperança pra quem anda desalentado e com a autoestima lá embaixo. Não podemos entregar nossa vida nas mãos de ninguém, ela é só nossa e nos pertence. Belo texto! Votei em vc viu? E na Tati tb, afinal, as 2 estão concorrendo né? beijos.
Puxa, parabéns, um texto muito bem escrito.
Uma mensagem de otimismo e motivação para muitos que gostam mais de outros do que de si. Adorei!
Bom final de semana!
Vou agorinha mesmo votar e estarei aqui torcendo.
Beijos
UAUUU!! Texto maravilhoso! Só por isso merece um voto! Aliás, 2! Um quando cheguei e outro agora, na hora de partir! hehehe
Boa sorte, amiga!
Beijos.
Yoyo, ainda bem que acabou bem.
Quando é assim, vale a pena, por mais que se tenha sofrido.
Vou votar em você, já votei na Tati.
Quando gostamos das pessoas temos que dar nosso crédito a elas.
Beijos!
Dar-se conta que a auto estima não pode ficar lá no chão, é o primeiro passo pra dar a volta por cima e recuperá-la...Linda participação!beijos,chica
NUNCA DEVEMOS AMAR NIMGUEM MAIS DO AMAMOS NÓS MESMAS!
TEXTO ESPETACULAR!
BEIJO
Que maravilha de história, Yoyo, e mais lindo ainda ela ter encontrado uma saída para retornar a sua felicidade.
E que bom que gostas do que eu escrevo, dos meus posts, por mais simples que possam ser.
Beijos e bom final de semana, Mauro
Yoyo, querida!
O mais legal é quando a gente dá a volta por cima, ressurge das cinzas como uma fênix.
E meu voto vai pra você também.
beijinhos cariocas
Yoyo, uma linda e triste história e verdadeira. Poderia até ser um conto, mas sabemos que acontece na vida real.
Isso acontece quando depositamos no outro, a total responsabilidade por nossa vida e felicidade. O Amor vira obsessão.
O outro é responsável sim por uma parte de nossa felicidade, mas é bom nos lebrarmos, sempre, uma parte apenas.
Um beijo
Adorei seu conto..uffa...ainda bem que a Clarice encontrou uma brecha de luz!
Vou votar em você. Depois dessa bela história quem não votaria?
Muito bom Yoyo!
Beijo grande.
Astrid Annabelle
Depositar o nectar da vida em mãos que não sejam as nossas é mesmo arriscar ficar sem ar.
Muito boa a história, cair e levantar, isso requer força e luta mas resulta em confiança e logo, em auto estima.
Parabéns.
Beijinho no coração.
p.s. Já votei, votarei mais vezes.
Oi florzinha!
É...realmente essa história acontece direto, infelizmente participo de perto de casos como este...mas tbm querida, qdo a pessoa acorda do pesadelo, uau, vai com tudo para a vida, vira uma borboleta exuberante!
Beijinhos querida Yoyo.
Flores e Luz.
Oi, Yoyo
Demorei, mas cheguei.
Que texto espetacular. Um conto bem realista, muito bem escrito e que serve como reflexão.
Já perdi muitas pessoas amigas pelo mesmo motivo, mas que diferentes da do texto, nunca mais encontraram sua autoestima, e se foram por um amor que acreditaram demais.
Parabéns pelo post!
Bjs no coração!
Nilce
Votei. Como vai sua filha pos acidente?
Tudo acabou bem isso é bom. A gente tem que ser feliz sem precisar do outro para isso. Nada de colocar essa dependencia em outra pessoa. Mas tudo é aprendizagem. Um ótimo sábado para ti. Bjs
Yoyo, querida, bravo! Sua história, triste, mas com a virada que nos inspira e nos faz acreditar num mundo melhor, lembrou-me, muito, a história de uma senhora que conheci já no estado de embriaguez em que sua personagem se encontrou. Infelizmente, a da vida real não conseguiu se enxergar mais, e, debaixo de um caminhão, com seu carro, definiu o fim de seu tormento. O homem em questão? Já a havia trocado por outra. Um beijo, que as mulheres nessa situação leiam e consigam enxergar essa linda luz azul que salvou Clarice! Um beijo da amiga, Deia.
Querida Yo-yo,
Peço-te desculpa, mas vc escapou na minha corrida pelos blogues da blogagem colectiva.
Gostei muito do que escreveu, algo muito actual e de que muito se fala, a violência doméstica, onde um vai ter amor-próprio em demasia à custa de provocar uma baixa-estima do outro. É de facto uma situação horrorosa.
Beijinhos,
Manú
Yoyo, voce reproduziu muito bem a historia de milhares de mulheres que nem sempre chegam a descobrir a si mesma.
Parabéns. Já tem meu voto.
beijinhos
Olá Yoyo, que bom receber sua visita. Obrigada! Li o seu post, adorei e vi nele a história de muitas pessoas que esquecem de si próprias, muitas vezes por um medo maior, o da solidão e acabam ficando mais sozinhas do que nunca. Também ficarei por aqui te acompanhando viu?! Bjosss
Olá!
Um tanto atrasada, mas, cheguei.
Adorei a história da Clarice. E quantas Clarices não existem espalhadas por aí? que em nome de um "grande" amor esquecem de si mesmas, perdem suas identidades e autoestimas. Quiçá, todas fossem iguais a essa do conto, que juntou os pedaços de si mesma e retomou sua vida. Parabéns!
Beijos
Socorro Melo
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